O primeiro amor
Lembro exatamente quando aconteceu a primeira experiência mais marcante da minha vida. Eu tinha oito anos e fazia a primeira série do ensino fundamental l (antigo primário). Foi quando vi aquele menino de cabelos cor de mel, caindo-lhe sobre a testa, muito lisinho! Ele era popular na escola, enquanto que eu era tão insignificante! Apaixonei-me assim que o vi. Era um amor platônico, pois ele nunca notara a minha presença, salvo um dia em que sentamos na mesma mesa e ele pediu-me a borracha emprestado! Aquele dia foi muito importante pra mim, pois lembro até hoje do modo como me senti ao chegar atrasada à sala de aula e só ter restado um lugar, exatamente junto ao menino que eu amava tanto! Não sei por que naquele dia, o destino providenciou aquele fato, acho que é porque teve peninha de mim, do tanto que eu sonhava com o dia em que ele falaria comigo!
Meu coraçãozinho de criança não parava de bater acelerado, e eu não ousava olhar para o menino sentado ao meu lado, pois temia que fosse um sonho e eu pudesse acordar de repente! Mas era real, e eu não acordei... Ele estava ali e, como sempre, muito expansivo, falando com os colegas. Num instante que me pareceu mágico, ele virou para mim e pediu-me a borracha, que o entreguei prontamente!
A todo instante ele recebia bilhetinhos de amor das meninas da outra sala. Aquilo me doía com tal intensidade, que achava que fosse me rasgar por dentro! Mas sempre calada, eu o amava em silêncio. Só eu e os meus sonhos sabíamos daquele sentimento que assim como chegou, também se foi, de maneira inesperada, mas devastadora.
Hoje eu não consigo lembrar os traços do seu rosto, mas lembro o seu biotipo e também a cor laranja da sua camisa preferida, a qual ele usava quase todos os dias para ir à escola! Lembro também a sua música predileta, a qual ele cantarolava a todo instante e que sempre que eu a ouvia lembrava do seu sorriso amplo.
Foram dias ensolarados na minha infância longínqua, mas tão presentes ainda como foram na época. Quem disse que criança não sabe amar? Tanto sabem quanto o fazem, embora de forma inocente e poética! Ali, onde a imaginação é a eterna companheira e onde os desenhos simbolizam e expressam os sentimentos, os quais ficam eternizados na memória.
E hoje, quando ouço Roberto Carlos cantando “Meus amores da televisão”, volto imediatamente àquele tempo de menina de oito anos, quando a magia do primeiro amor aconteceu e ainda permanece nas lembranças, sem dores nem amores, mas com saudades do tempo em que tudo parecia tão simples e encantado, e o amor era uma simples brincadeira de criança, sem as complicações que o envolvem!
Célia Ramos