Quando eu li Cassimiro
Lembrando seus oito anos,
Não pude fugir do plano
Que a memória traçou
Mostrando a minha infância
Em toda a sua grandeza,
Rodeada de beleza
De um tempo que já passou.
Dias de pura magia,
Faz-de-conta e diversão,
Cegonha, bicho-papão
E as noites de luar.
No terreiro da fazenda
Já no finalzinho
do dia
A criançada corria
Ouriçada pra brincar.
As histórias de trancoso
Que o meu avô contava
Quando na rede eu deitava
E me punha a balançar.
Dos monstros que ele criava,
O medo que eu sentia,
Mas esperava outro dia
Para outra vez viajar.
A imaginação fluía
Entre uma e outra história
Se não me falha a memória,
Não via a hora passar.
Entre os serviços de casa
Que minha mãe delegava
Com bonecas eu sonhava.
Difícil era acordar!
No terreiro da cozinha
Um majestoso cajueiro
Tantas vezes companheiro,
Testemunha em meu criar...
Minhas fazendas de gado
Feitas de pedra e maxixe,
Aquela árvore insiste a
Em silêncio, observar!
Naquela casinha branca,
Onde eu quase cresci
Em cujos pastos corri,
Pés descalços pelo chão,
Lembro até das corsas
Que a minha mãe me dava
Quando sonhando eu brincava
E deixava queimar o feijão.
Tempos bons de uma infância
Perdida pelo caminho
Do tempo que em desalinho,
Faz-nos sorrir ou chorar.
Um tempo que já não volta
Que passou, fechou a porta.
E só nos resta a memória
Para poder recordar.
Quem dera que essa infância
No tempo se eternizasse
E os momentos voltassem,
O quão bom que isso seria!
Seríamos pura leveza
Recheados de inocência.
Do amor, só a essência
Pra vivermos em harmonia!
Célia Ramos